Das contraditórias relações humanas, o casamento é o exemplo
de uma complexa mistura de querer e não querer, de poder e não poder, de ser e
não ser.
A abdicação de si mesmo é o primeiro fato fatal. Entre o
desejo de dar o melhor para o outro, a gente se apaga, se ofusca e se esconde atrás
da tentativa se ser perfeito pra alguém.
No meio dos afazeres cotidianos começam a aparecer cabelos
escabelados, roupas que só se repetem, unhas mal feitas, a troca do caro pelo
barato, a mudança do desejo de ser para o ter.
Entre economias, aquisições, busca pelo conforto e uma ascensão
absurda da ambição, apagam-se as faíscas incomuns que antes atiçavam o fogo, calam-se
os te amos perdidos na madrugada, encerram-se os papos caretas de bobos apaixonados...
Pra ser feliz, é preciso ter um amor inabalável capaz de
sustentar uma amizade incomum. Capaz de se doar por inteiro e mesmo assim
lembrar de si mesmo.
É contraditório! Todos querem encontrar o príncipe e a princesa
e juntar as escovas pra sempre, mas ninguém ainda descobriu como a princesa
pode se manter linda e o príncipe encantador em meio a tantas contas,
diferenças e desejos.
Meros mortais são raros casais perfeitos, mas o que conforta
é lembrar das memórias perdidas.
Por isso, releia e-mails e cartas antigas,
reveja fotos e permita-se viver um momento nostálgico. Olhar pra trás sempre
faz refletir e talvez ajude a encontrar o sentido das coisas. Além disso, faz
você descobrir o quanto você mesmo era melhor. Isso pode motivar a reviver uma
paixão eterna. Aquele amor que doía por não poder ser descrito em palavras, que
parecia e ainda é imensurável.